terça-feira, 14 de agosto de 2018

Zooparque Itatiba tem a primeira reprodução por meio natural de pato-mergulhão

Pela primeira vez, filhotes nascem de ovos incubados pela mãe; o pato- mergulhão é uma das mais raras e ameaçadas espécies de ave no mundo
O Zooparque Itatiba registrou a primeira reprodução por meio natural de pato-mergulhão sob cuidados humanos no mundo. Quatro filhotes nasceram no dia 8 de julho, de ovos incubados pela primeira vez pelos próprios pais. O pato-mergulhão é uma das aves aquáticas mais raras e ameaçadas do mundo, com menos de 250 indivíduos na natureza. O Zooparque Itatiba é a única instituição no mundo que mantém essa espécie sob seus cuidados.

Este sucesso reprodutivo foi possível graças aos esforços da Associação Natureza do Futuro, que tem sua sede no Zooparque Itatiba e desenvolve ativamente projetos focados na conservação de espécies ameaçadas da fauna nacional. Seu objetivo principal é a conservação do pato-mergulhão, sendo este um dos mais importantes projetos de conservação de espécies ameaçadas do país.
O primeiro objetivo desse trabalho foi possibilitar o nascimento de indivíduos dessa espécie no zoo, proporcionando o aumento de sua população. A amostragem definida para o início da reprodução foi de cinco casais formados. Após esses pareamentos, ocorreram as primeiras posturas e os primeiros nascimentos de pato-mergulhão em um ambiente sob cuidados humanos, em 2017.
O Zooparque tem hoje 21 patos-mergulhões adultos. Até então, todos os indivíduos nascidos no zoo foram criados de maneira artificial, utilizando-se da infraestrutura de maternidade existente na instituição. Os ovos foram incubados artificialmente e os filhotes, criados manualmente. Neste ano, três casais fizeram a postura de ovos no zoo e, diferentemente do ano anterior, o processo de incubação ficou totalmente a cargo dos pais. Esta é a primeira vez que os casais foram responsáveis por todo o processo de reprodução.

PROJETO PATO-MERGULHÃO
O projeto do pato-mergulhão teve seu início em 2006, por inciativa do Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Mas somente em 2012, com a criação do ICMBio (Instituto Chico Mendes), foi que o projeto começou a ganhar forma e assim, após uma reestruturação de seus objetivos e ações, foi criado o PAN (Plano Nacional de Conservação) do pato-mergulhão.
O Zooparque Itatiba e a Associação Natureza do Futuro desempenham um papel fundamental nas diretrizes desse plano. Como parte da metodologia de trabalho, foi designada a essas duas instituições realizar o manejo e a reprodução desta espécie. Assim, teve início o projeto de conservação ex situ de pato-mergulhão no Zooparque Itatiba. A base desse projeto foi realizar a coleta de ovos em ambiente natural para serem incubados posteriormente no zoo. Esses ovos foram escolhidos para a coleta científica no Jalapão (TO), em Patrocínio (MG) e na Serra da Canastra (MG) por se tratarem de ovos que não teriam chances de eclosão.
O sucesso reprodutivo do pato-mergulhão no Zooparque Itatiba demostra a importância da reprodução de espécies ameaçadas sob cuidados humanos. O foco principal de todo esse projeto é o aumento da população dessa ave, possibilitando, futuramente, a reintrodução das gerações nascidas no zoo em seu habitat natural.  Para Alexandre Resende, veterinário do Zooparque, o nascimento desses filhotes junto à mãe é um indicativo de que, embora criados sob cuidados humanos, eles podem sobreviver em seu habitat natural. “Como foram criados longe dos pais naturais, tínhamos a dúvida de que seriam bons pais, já que estes não estavam por perto para ensiná-los. Foi provado agora que não teremos problema quanto a isso”, justificou.
Essa futura reintrodução poderá dar uma sobrevida a essa espécie criticamente ameaçada. Para Robert Kooij, diretor do Zooparque, o nascimento de mais uma geração de patos-mergulhões é apenas a primeira etapa desse grande projeto. “Um projeto dessa relevância mostra como os zoológicos são importantes na conservação da fauna brasileira. Através da reprodução dessas espécies ameaçadas é possível ter um aumento em sua população e, futuramente, com parcerias, possibilitar a reintrodução dessas gerações nascidas sob cuidados humanos”, afirmou.  
No Zooparque, os patos-mergulhões são mantidos em recintos fechados à visitação, em uma área de 100 m2 para cada casal, lagoa artificial de água corrente, vegetação e ninho em tronco de madeira e cavidades naturais nos recintos. São monitorados por câmeras 24 horas por dia. A alimentação é balanceada com ração e alevinos de lambaris vivos colocados nas lagoas para estimular o comportamento natural da espécie. Os visitantes podem vê-los através de um centro audiovisual instalado na maternidade.

LISTA VERMELHA
 O pato-mergulhão é uma das aves aquáticas mais ameaças do mundo, considerada criticamente em perigo de extinção em nível global segundo a IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza). Segundo a entidade, existem menos de 250 aves em vida livre e esse número está diminuindo. A espécie só é encontrada nas regiões da Serra da Canastra (MG), Patrocínio (MG), Chapada dos Veadeiros (GO) e no Jalapão (TO).
A ave depende de águas limpas e transparentes porque se alimenta somente de peixes, e por isso precisa ter boa visibilidade debaixo d’água para conseguir mergulhar e caçar, daí o nome pato-mergulhão. Os mergulhões gostam de rios com corredeiras e vegetação nas margens, e são extremamente afetados pela degradação das águas. Por este motivo são considerados bio-indicadores: a presença da espécie indica que aquele ecossistema está em equilíbrio.
Devido à grande importância da conservação desta espécie, o pato-mergulhão recebeu, no 8º Fórum Mundial da Água, em março deste ano, em Brasília, o título de Embaixador das Águas do Brasil. Quando se fala na conservação do pato-mergulhão fala-se na conservação de toda a biodiversidade e na conservação das principais nascentes dos rios que abastecem a população.

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