sexta-feira, 31 de julho de 2020

Antecipação do "Agosto Dourado" garantiu estoque de leite materno na Maternidade de Campinas

Em janeiro, preocupados com o estoque do seu Banco de Leite Humano que registrava apenas 108 litros - a metade do mínimo ideal para o atendimento dos seus 62 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e Unidade de Cuidados Intermediários Neonatal (UCI) -, o Hospital Maternidade de Campinas decidiu antecipar a campanha de doação de leite materno. O medo era chegar no outono sem o volume necessário para enfrentar os meses mais frios quando, geralmente, aumentam as internações de recém nascidos por problemas respiratórios. Ainda mais com o enfrentamento da pandemia do novo coronavirus.
A estratégia foi bem sucedida, e antes de chegar ao “Agosto Dourado”, mês que simboliza a luta pelo incentivo à amamentação, o estoque registra 274,4 litros de leite materno no Banco de Leite Humano do Hospital Maternidade de Campinas, quase 40% a mais do mínimo necessário para o atendimento da demanda esperada para o período.
A coordenadora do Banco de Leite Humano do Hospital Maternidade de Campinas, Olívia Fávaro, acredita que o isolamento social acabou auxiliando nas doações, considerando que muitas mães, após o nascimento dos filhos, passaram a trabalhar em home office, o que ofereceu oportunidade e comodidade maior para a ordenha. Também facilitou a coleta na casa das doadoras, que já é feita semanalmente pelo Banco de Leite da Maternidade. Hoje, são de 160 doadoras cadastradas. Cada litro doado pode alimentar até 10 recém-nascidos por dia.
“Os estoques estavam muito baixos, quase a metade do necessário e temíamos com a chegada da pandemia do novo coronavírus ao Brasil. Assim, em abril iniciamos uma ampla campanha de arrecadação e estamos vendo, a cada mês, o aumentando gradativo do estoque. Muitas das doadoras que voltam a trabalhar após a licença-maternidade deixam de realizar a ordenha por não terem um local apropriado no trabalho para a retirada e para o armazenamento correto do leite. Em casa, o processo é muito mais simples. Para se ter uma ideia, apenas no “Agosto Dourado” de 2018 conseguimos chegar aos 200 litros. Sempre estamos trabalhando com volumes bem abaixo disso”, explica Olivia Fávaro.
O presidente do Hospital Maternidade de Campinas, Dr. Carlos Ferraz, lembra, no entanto, que essa é uma campanha que não pode ser interrompida diante da necessidade permanente de manter os estoques em níveis adequados, considerando ser a instituição campineira a maior maternidade do interior do Brasil em número de partos. Por mês, nascem cerca de 850 bebês neste hospital, dos quais 60% com atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Campanha Agosto Dourado
Justamente pela verificação da real possibilidade de manter os estoques do Banco de Leite Humano nos níveis desejados é que a campanha não pode parar. E pela importância de conscientizar as mães sobre a necessidade da amamentação, principalmente para o bebê. A cor dourada do mês de incentivo à amamentação está justamente relacionada ao “padrão ouro” de qualidade do leite materno.
Ao longo da próxima semana, no período de 3 a 7 de agosto, o Hospital Maternidade de Campinas realizará uma série de ações voltadas ao tema. Todas serão restritas às colaboradoras e pacientes e realizadas internamente pela necessidade de se evitar a aglomeração de pessoas. A interação com a Dra. Thiara Fogaça, pediatra e diretora da Maternidade, sobre a importância do aleitamento materno, por exemplo, será online. Entre as doadoras ativas nos meses de julho e agosto haverá o sorteio de uma “Jóia de Leite”, um pingente feito com o próprio leite (solidificado) da mãe cadastrada. “O objetivo é promover e informar sobre a importância da amamentação e estimular atitudes que melhorem a saúde das pessoas através deste ato”, comenta Olivia.
O “Agosto Dourado” foi instituído por lei no Brasil em 2017, mas o Hospital Maternidade de Campinas já se preocupava com essa questão desde 1993, quando inaugurou as atividades do Banco de Leite Humano. Em 2020, a Semana Mundial do Aleitamento Materno acontecerá de 1º a 7 de agosto. O lema deste ano, definido pela Aliança Mundial para Ação em Aleitamento Materno, será “Apoie o Aleitamento Materno por um Planeta Saudável”.
Para doar
Para ser doadora é necessário que a mulher seja saudável, que esteja amamentando o próprio filho e que tenha uma produção excedente de leite após a mamada. O primeiro passo é fazer o agendamento prévio para o cadastramento e realização do exame pelo telefone (19) 3306-6039. Tudo é gratuito.
As doadoras só precisam ir ao hospital uma única vez para realizar o exame de sangue para a verificação de sorologias de Sífilis, Hepatites B e C, doença de Chagas, HTLV (Vírus Linfotrópico da Célula Humana) e HIV (Aids). A coleta é feita nas residências, uma vez por semana. São atendidas também doadoras que moram em municípios vizinhos. No entanto, como o Banco de Leite utiliza o único veículo disponível para todos os demais setores e serviços do hospital, é priorizada a coleta em municípios onde haja mais de uma doadora.
A realização do exame é rápida, pois se trata apenas de uma coleta de sangue. O atendimento é feito apenas às segundas-feiras, das 13h às 15h, no ambulatório da Rua José Paulino, n° 1774, na lateral do acesso principal da Maternidade (entrada pelo estacionamento em frente à Igreja do Nazareno). Esse ambulatório está sendo utilizado exclusivamente para o atendimento às lactantes, a fim de que elas não tenham qualquer contato ou acesso ao hospital. Os agendamentos respeitam períodos de meia hora para, inclusive, não haver mais do que uma ou, no máximo, duas mães no local no mesmo momento.
Cuidados redobrados
Sempre houve cuidado extremo na coleta do leite materno. Agora, no entanto, os cuidados estão redobrados diante da pandemia da COVID-19. As doadoras estão sendo orientadas a reforçarem os cuidados com a higiene das mãos e dos frascos, a usarem as toucas e máscaras fornecidas semanalmente pelo próprio hospital e a não coletarem o leite caso tenham qualquer sintoma de gripe, resfriado ou mesmo tosse, assim como ninguém da residência pode apresentar esses sintomas. “A doadora tem que ser e estar saudável para a realização da coleta”, informa Olívia.
“As doadoras são orientadas a nos comunicar imediatamente caso apresentem algum sintoma respiratório, tosse, resfriado ou gripe para a interrupção imediata da coleta. Todas as semanas, antes de coletarmos os frascos nas residências, telefonamos para a doadora para saber se ela, o bebê e todos na residência estão saudáveis. Somente então a coleta é efetivada e entregue o novo kit com o frasco de armazenamento, touca e máscara, para a maior segurança de todos. Todo o leite coletado passa pelos mais rigorosos processos de pasteurização e análise da qualidade antes de servir como alimento para os bebês internados”, esclarece.
A coleta na residência é feita de segunda a sexta-feira pelo motorista da Maternidade, acompanhado por uma técnica de enfermagem exclusiva do Banco de Leite (que não atua em qualquer outro setor do hospital). O leite doado é transportado em caixas isotérmicas com gelo (geloc) e com controle de temperatura feito por termômetro digital. A visita às residências é feita com todos os equipamentos de segurança recomendados.
O aleitamento materno é a forma mais natural e segura de alimentar a criança no início da vida. No leite materno são encontrados diversos componentes imunológicos, tornando esta prática essencial para alcançar o crescimento e o desenvolvimento infantil adequados, além de promover benefícios para a saúde física e psíquica da mãe e do bebê. A criança amamentada pela mãe apresenta menor incidência de infecções, menor tempo de hospitalização e menor incidência de reinternações.
Coronavírus
Até o momento da publicação da Nota Técnica Nº 5/2020 pela Secretaria de Atenção Primária à Saúde, do Ministério da Saúde, não havia evidências sobre a transmissão do coronavírus através da amamentação, e considera-se prudente manter as doações. E, por segurança, o Ministério da Saúde determina ser “contraindicada a doação de leite humano por mulheres com sintomas compatíveis com síndrome gripal, infecção respiratória ou confirmação de caso de SARS-Cov-2 e também as que tenham contatos domiciliares de casos com síndrome gripal ou caso confirmado de SARS-Cov-2”.

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